19 de ago. de 2007

O vilão do cópia e cola na Internet

Hoje, no jornal "Gazeta de Alagoas", sairam dois artigos assinados por Felipe Farias e com os titulos seguintes: " Plágio vira pesadelo em universidades" e "Certeza de impunidade favorece prática".

Devo dizer que, na minha opinião, eles foram escritos com um tom meio fatalista. Embora não é dito assim, detrás das linhas podemos escutar o seguinte: "o que podemos fazer contra isso?"

Digo que são fatalistas, porque parece que nada pode ser feito, apenas ter o mecanismo de "controle" adequado: um programa de computador específico, proibir o texto impresso, etc., etc.

Eu fico muito bravo, cada vez que meus filhos trazem da escola um pedido de uma pesquisa sobre um tema X e sem maiores detalhes. Um pedido desses só convida para o cópia e cola e acredito que se ainda não sabem, logo logo os adolescentes aprendem como "resolver" o problema dessa "pesquisa vazia", além do mais, quando muitas vezes servem apenas para preencher uma nota.

Tenho a impressão que os professores não conhecem que com perguntas desafiadoras e com metodologias como webquests e "caças ao tesouro", além do básico seguimento personalizado do processo de pesquisa e desenvolvimento acadêmico do aluno" é que pode ser controlada essa tendência da cópia indiscriminada, e levar o aluno para níveis mais profundos do conhecimento.

No final, embora algumas pessoas não acreditem nisto que vou dizer, é muito reconfortante quando uma pesquisa nos leva a novas descobertas, ou quando a partir de um desafio inicial e navegando pela Internet, aprendemos outras coisas que não estavam previstas inicialmente. É só saber incentivar adequadamente, saber reconhecer os logros e saber estimular a necessidade de processar devidamente a informação; saber parafrasear e citar os autores, quando necessário, etc. Para isso o professor tem que estar preparado e não só para controlar e dar o visto bom para o trabalho produzido pelo aluno.

Bom, depois de tudo isso, aqui estão os dois artigos citados. Julgue você mesmo:



PLÁGIO VIRA PESADELO EM UNIVERSIDADES

por Felipe Farias. Gazeta de Alagoas (Cidades D5), 19 de agosto de 2007.

Considerado um caminho fácil e com as vantagens de acesso a textos diversos, trabalhos copiados da internet impõem mudanças em faculdades.

O caminho é fácil porque requer apenas cinco teclas para executar os comandos: uma dassetas + shift (maiúsculas) para selecionar o texto e mais três (ctrl + C; ctrl + V) para copiá-lo e colá-lo. E, ironicamente, o resultado é o exemplo mais acabado da "lei do menor esforço". O problema éque pode tratar-se de um crime, previsto em lei federal: plágio.

Com as vantagens de acesso a textos diversos, dos mais variados campos do conhecimento,possibilitadas pela internet, copiar uma idéia e fazê-la passar por sua usando para isso arede mundial de computadores virou pesadelo para professores e chegou a mudar práticas pararecebimento de trabalhos em diversas instituições de ensino superior.

"Eu me sinto regredindo à 'idade da pedra', mas, infelizmente, tornou-se uma prática necessáriaporque o aluno não quer pensar", ironiza o coordenador do curso de Ciências da Computação daFaculdade Alagoana de Administração (FAA), Valdick Sales, ao informar que passou a exigirtrabalhos manuscritos de seus alunos, como uma das alternativas para fazer frente ao problema.

"Em 2005, a Universidade Federal do Rio de Janeiro também estipulou como exigência para entrega de trabalhos que eles viessem manuscritos. Não é a solução, mas, pelo menos faz o aluno pensar", endossa o professor doutor Nelso Rodrigues Abreu, titular da disciplina Gestão de Recursos Humanos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Foi dele a sugestão para que a instituição adotasse um programa para "farejar", entre ostrabalhos dos alunos, cópias de textos que circulam pela internet, o qual tomou conhecimento numa universidade de Minas Gerais, que já tinha recorrido ao programa para enfrentar o problema.

A sugestão levou a uma exigência paradoxal - igualmente motivada pela tentativa de combater o plágio: a de que os trabalhos sejam entregues apenas em meio eletrônico, como disquete, parapossibilitar a aplicação das ferramentas de varredura do programa.
A adoção de um programa exclusivo para combater plágio mostra a preocupação do segmento docente com a extensão do problema.

De tão disseminado até já recebeu o apelido familiar das teclas de atalho com que se executa asfunções de copiar um texto de qualquer ponto e colá-lo onde quer que se queira - hoje o pesadelo de coordenadores de cursos superiores, diretores de faculdades, mas, sobretudo, de professoresque orientam trabalhos de conclusão de curso -, responde pelo nome de "control C control V".

CERTEZA DE IMPUNIDADE FAVORECE PRÁTICA

No Ensino Médo, preocupação dos professores aumentou quando identificaram alunos com o mesmo tipo de trabalhos e erros.

por Felipe Farias, Gazeta de Alagoas (Cidades D7), 19 de agosto de 2007.

No ano passado, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Ufal detectou cinco casos de alunos que recorreram à prática do plágio para se formar. O episódio foi administrado com sigilo: os plageadores foram reprovados à época, mas três estão para se formar. "Decidimostomar uma posição mais educativa", justifica o então diretor, Anderson de Barros Dantas,daíporque eles tiveram uma nova oportunidade.

Há cerca de dois anos, houve episódio semelhante no curso de Comunicação Social do Centro deEstudos Superiores de Maceió (Cesmac) - também tratado com sigilo. "E uma postura individual, mas o aluno que recorre a isso tem de ter noção que mais cedo ou mais tarde aquele trabalho que ele assinou como seu será flagrado, porque a facilidade de acesso que ele teve as outras pessoas também têm", disse a professora Cristina Britto, coordenadora do curso de Comunicação Social do Cesmac.

De acordo com os responsáveis, a atitude não chega a se configurar numa "praga" - a incidêncianão passaria de 5%. Mas, se a missão da instituição é educar, deve ser combatida.
"O professor deve acompanhar o aluno desde o começo do curso; o que aumenta sua responsabilidade.

Ele tem de fazer ver ao aluno que ele está ali para aprender, não para tirar nota; a nota é umaconsequência", diz Nelsio Rodrigues, da faculdade de Economia da Ufal.

A responsabilidade e a apreensão recaem sobre a figura do orientador do trabalho de conclusão de curso (TCC). É ele que acompanha o aluno desde a escolha do tema sobre o qual quer desenvolver até o momento em que apresenta seu TCC para a banca examinadora.

Para Nelsio, um problema como esse com um aluno envolve o orientador, já que coube a eleacompanhar todas as fases da elaboração do TCC. "É o nome dele que vai constar lá"."A responsabilidade cabe ao orientador, mas, muitas vezes, sem recursos tecnológicos, ele não tem como fazer frente a isso. Além do mais, há casos de professores com sete a dez alunos comtrabalhos de conclusão de curso para apresentar e que geralmente, só escolhem o orientador nos três últimos meses do curso", explica Anderson de Barros Dantas.

Segundo ele, parte do problema se dá pela certeza da impunidade: o aluno saber que não será pego.

Para os educadores, além de possibilitar acesso a uma infinidade de informações, a Internet também dá origem à "preguiça de pensar".

Mas, é no ensino médio que a busca pelo "caminho mais fácil" adquire contornos mais flagrantes.Eles não têm nem o trabalho de diagramar", diz o coordenador do ensino médio do Colégio Inei, Luiz António Corrêa.

Segundo ele, a preocupação aumentou quando os professores identificaram alunos com o mesmo tipo de trabalho e de erros. "Quando se passa algum texto da internet para a impressão, às vezes o gráfico fica fora das margens, os textos saem incompletos", relata.

Para ele, o problema está na má utilização dos recursos benéficos da Internet, uma biblioteca mais completa que as demais. "Se ele fizesse o trabalho e estivesse aprendendo, seria positivo. Em vez de levar horas para aprender com os métodos convencionais de produzir os trabalhos,ele faz o trabalho em quinze minutos e não aprende nada. Para isso, internet não é interessante".

Por isso, a escola mudou sua metodologia: em vez de trabalhos trazidos prontos de casa, pesquisa sobre temas específicos debatidos em sala de aula e, sobretudo, ènfase na redação, para inventivá-lo a desenvolver a habilidade de se expressar, mesmo em temas de outras disciplinas.

11 de ago. de 2007

Social Bookmarking - O poder do social na Internet

Graças a Dotsub.com agora você poderá assistir legendado em português ou outras línguas, este excelente vídeo-tutorial de Lee Lefever, que a ritmo de vídeo-clip de MTV, lhe apresentará em poucos minutos o princípio de funcionamento de Del.icio.us, um dos sistemas mais populares da atualidade para marcação ou etiquetagem de sites favoritos, assim como as possibilidades de compartilhar e fazer crescer esses marcadores junto com outras pessoas interessadas no mesmo asunto.
Não deixe de assistir. Clique no ícone indicado pela seta e depois aguarde o carregamento do arquivo (como nos vídeos de Youtube). Se quiser pode retornar o vídeo quantas veces achar necessárias para entender completamente o conteúdo.



Legal, verdade?

10 de ago. de 2007

Perigos na Internet. Um exemplo recente

ANALIZE SEMPRE OS E-MAILS QUE CHEGAM PARA VOCÊ ANTES DE CLICAR EM ALGUM LINK

Isto não está relacionado diretamente com educação, mas.... é uma praga da qual devemos ficar sempre atentos.

Como exemplo, tomarei um e-mail que me chegou hoje. Seu título era curioso e por isso o abri "Tragédia no Rio de Janeiro", mas só de ver algumas de suas características, foi evidente que se tratava de mais um caso de vírus utilizando a engenharia social ou curiosidade natural das pessoas.


Minha intenção é analisar, neste caso recente, os elementos que evidenciam o vírus, mas antes disso, leia o excelente artigo escrito por Emerson Alecrim, que embora seja de 2004, continua totalmente atual: Ataques de engenharia social na Internet.

Vamos agora para nosso exemplo:

1- O título é muito atraente. Repare também na qualificação do e-mail como [bulk] ou seja um e-mail distribuído em massa, em grandes quantidades. Ser um e-mail em massa + um título atraente não é bom sinal, mas não significa que seja necessariamente um virus.

2- Repare também como tenta-se enganar às pessoas utilizando um suposto endereço de procedência de e-mail sério (neste caso da Folha on-line), mas observe que o site não tem nada a ver (admin.com.br) e nem existe de fato esse site. É comum citar empresas como CNN, Coca-Cola, etc.

3- Por último, o mais importante, se você posicionar o cursor acima do link, verá que esse link na realidade levaria você para um site russo (.ru) e provavelmente para baixar um arquivo executável e provocar algum dano. Esse comportamento de posicionar o cursor para ver o endereço do link (e sem clicar nele) é muito salutar. Se achar suspeito esse link ou nome, pode pesquisar antes na Internet para ver se aparece alguma informação dele, por exemplo nos alertas de vírus ou outros sites especializados.

Sempre fique de olho com os possíveis e mutáveis perigos existentes na Internet!


Como disse Emerson Alecrim no seu artigo (2004):

O grande problema é que muitos internautas, independente da idade, estão "dando seus primeiros passos na Internet" e não têm noção dos perigos existentes nela. Muitos ficam maravilhados com a "grande rede" e tendem a acreditar em tudo que lêem nesse meio. Felizmente, muitos provedores de acesso à Internet e a mídia como um todo tem dado atenção aos golpes existentes na Internet e ajudado na divulgação das formas de prevenção. Mas ainda há muito a ser feito e se governos e entidades especializadas não levarem o assunto a sério, a Internet será tão perigosa quanto andar sozinho num lugar escuro e desconhecido.

8 de ago. de 2007

Professores incentivam alunos a compreender o que lêem


Por Ana Guimarães, no Portal MEC, 07/08/2007 - Brasília DF
Macapá ― A sala de leitura da Escola Estadual Santa Maria é um local muito pequeno e recoberto de livros infantis. O nome é sugestivo: sala de leitura Semente de Idéias. A professora Rosimeire São Tomé, uma das responsáveis, explica o que pretende: “Eu não quero que eles leiam somente. Quero que eles compreendam e gostem do que estão lendo”.
A aluna Erislene Vitória, da 4ª série, ganhou dois prêmios de poesia. Um foi o Escrevendo o Futuro, do Itaú Cultural, e o outro da Polícia Militar, numa campanha contra as drogas. Na sala de leitura, os alunos são incentivados a contar as histórias dos livros e a convencer os colegas a ler também. É o que eles chamam de leitor bom de papo. O bom de papo é aquele que consegue incentivar a leitura dos colegas. “Nós fazemos um concurso anual. Quem fizer os colegas lerem mais livros é o vencedor”, conta a diretora Lia Maria Santos Ramos. O prêmio é um brinquedo, um livro, uma bola. Juliana Oliveira Mota, de seis anos, na 1ª série, gosta de literatura. “Eu gosto muito de vir aqui e ler as historinhas”, conta.
A salinha, que comporta o imaginário da literatura na Escola Santa Maria, é decorada por um varal de poesias. As obras das crianças ficam expostas, ao vento, esperando para alçar vôo. Em um dos papéis está a poesia de Elani do Nascimento, da 4ª série. “Um dia eu vi um livro encantado, falava tanto em poesia que fiquei apaixonada”, diz o verso. O motivo da paixão de Elani, os livros, também contagia outros alunos. Como resultado do envolvimento deles com a leitura, a escola obteve a melhor nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Amapá. “O melhor de tudo é que elas acham que estão brincando”, conta Ana Maria Soares, coordenadora pedagógica. O projeto Semeando Idéias existe há quatro anos.

Nota de Gonzalo: Este é mais um exemplo de como coisas boas podem ser feitas sem ter que ser muito sofisticadas, nem precisar de grandes somas de dinheiro. Paixão pela profissão é a primeira das coisas necessárias.

6 de ago. de 2007

Para que o acesso ao conhecimento seja real. E não apenas virtual


Folha Dirigida, 02/08/2007, via portal da Andifes
Durante dez anos, Jorge Werthein dirigiu o escritório de representação da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no Brasil. Sociólogo, educador e autor de mais de 40 livros, ele agora é diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), entidade que realiza estudos sobre educação e cultura em diversos países. Nascido na Argentina, mas vivendo no Brasil desde os anos 70, após estudar e trabalhar nos Estados Unidos, Jorge Werthein conhece bem as diferentes realidades da América. Por isso, lamenta que os sistemas educacionais dos países latino-americanos, inclusive o do Brasil, sejam tão fracos. "Há uma dívida histórica imensa, com grandes limitações e fragilidades", afirma. Em entrevista à FOLHA DIRIGIDA, o sociólogo analisa o uso que se faz atualmente da tecnologia, da Informática e da internet nestes países. E revela que, em vez de promover a inclusão digital, esses avanços tecnológicos aumentam ainda mais a exclusão e as desigualdades sociais da América Latina.

Recentemente, a Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), entidade da qual o senhor é diretor-executivo, em parceria com Instituto Sangari e o Ministério da Educação (MEC), lançou o estudo "Lápis, borracha e teclado: tecnologia da informação na educação no Brasil e na América Latina". O estudo afirma que as escolas, em vez de reduzir o abismo social e digital, reproduzem e ampliam a exclusão. Como isso acontece e como reverter esta situação?
Jorge Werthein - Primeiro, é preciso fazer uma leitura desse diagnóstico, para entender qual é o impacto desta tecnologia tão importante - a Informática - na educação. Neste estudo, o que nos surpreendeu foi que, ao se observar a distribuição dos laboratórios nas escolas, percebe-se que eles estão colocados nas melhores instituições públicas. Quando se observa o uso dos telecentros, vemos que estes também, geralmente, são usados por segmentos da população de classes A ou B, ou seja, as mais favorecidas. Para mudar isso, o ministro Fernando Haddad, com os dados da pesquisa em mãos, resolveu concentrar esforços e tecnologias para melhorar o sistema educacional das escolas que estão instaladas nos dois mil municípios com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Brasil.

De que maneira esses esforços e tecnologias serão utilizados nestes dois mil municípios?
Depois que os municípios forem identificados, será formulada uma política de discriminação positiva, favorecendo as escolas e os seus alunos, que estão em situações mais difíceis por estarem esquecidos. Isso será acompanhado pela distribuição e instalação de computadores nas escolas. Em relação aos telecentros, há de se pensar por que está acontecendo isso. É preciso buscar respostas para utilizar este telecentro com mais eficiência. Os telecentros estão sendo utilizados pela classe média, porque são os que precisam acessar a internet, principalmente para resolver trâmites burocráticos, ligados ao setor público. Eles precisam escrever uma declaração, fazer o Imposto de Renda pela internet... E os outros? Eles não estão chegando ao estágio de utilizar a internet, porque eles não sabem como fazer isso e nem foram formados para usar essas ferramentas tão importantes.

Esta situação se repete em outros países da América Latina?
Não necessariamente. Há países, como o Chile, que, quando analisado o uso que fazem da informática, é observado exatamente o oposto. Lá, as escolas e as pessoas mais desfavorecidas foram priorizadas. Isso mostra que há uma política bem formulada e que isso pode ser feito. O que se repete como um todo na América Latina é o fato de ser uma região de grandes desigualdades. E, lamentavelmente, o Brasil é o número um nessas desigualdades. Por conta disso, a introdução de uma ferramenta tão importante como a informática e o acesso à internet ficam restritos aos setores mais favorecidos. Esta situação é discutida em encontros internacionais, onde é levantada a hipótese de que temos um instrumento fantástico, mas que não vai permitir socializar a informação existente no mundo.

E desde quando esta situação é constatada?
Isso não é uma coisa nova. Antes de toda essa tecnologia atual, já existia a desigualdade no acesso à informação. Quando se produz a informática, acontece uma reprodução da mesma situação. Além disso, não há acesso a uma formação em Informática. E os que têm acesso à informação, baixada através da internet, são pessoas que estão sendo muito mais beneficiadas do que as outras. Ou seja, a distância entre os incluídos e os excluídos digitalmente, dentro do próprio país, como o Brasil, está aumentando, em vez de diminuir. O Chile, a Argentina e a Costa Rica, que são países menores que o Brasil, por exemplo, têm mais usuários de informática e de internet. Há brechas digitais em um país do tamanho do Brasil, com muitas desigualdades. A distância interna, entre alguns estados e regiões, é dramática.

Como o senhor avalia a educação nos países latino-americanos?
Na região, como um todo, os sistemas educacionais são fracos. Fracos quando os comparamos com a realidade de países do mundo desenvolvido. Dentro da região, porém, há países com uma história educacional diferente. Há países que começaram a formular e implementar políticas públicas destinadas a uma educação de qualidade há décadas - como a Argentina e o Uruguai. Além deles, outros países, como o Chile, a Costa Rica e Cuba, têm sistemas educacionais melhores que o resto da América Latina. Entretanto, quando comparamos esses sistemas educacionais com os dos países desenvolvidos, sejam os países nórdicos, na Europa, ou alguns países asiáticos, como a Coréia do Sul, ou ainda países na América mesmo, como Estados Unidos e Canadá, a distância entre a qualidade e a educação é muito grande.

E o Brasil? Como é o nosso sistema educacional?
O Brasil tem uma dívida histórica imensa, que se deve ao fato de o sistema educacional sempre se mostrar com grandes limitações e fragilidades, sem conseguir alcançar uma qualidade aceitável. Isso também acontece, sobretudo, porque no passado o Brasil se preocupou com uma educação pública de qualidade, mas para as elites. Porém, ao tentar democratizar o acesso para as escolas públicas, não se conseguiu uma política adequada, que permitisse, inclusive, se ajustar a esta nova realidade do cenário mundial, onde grandes setores da população, em vários países, conseguem ingressar no sistema educacional. Com isso, o ensino básico brasileiro foi se deteriorando e surgiram as escolas privadas, para onde a elite começou a mandar os seus filhos devido à qualidade maior. Contudo, essas escolas privadas, quando comparadas à média das escolas públicas de países desenvolvidos, ainda estão muito atrás.

Como aumentar o nível de qualidade na educação brasileira?
Agora temos visto uma definição, de caráter político, colocando a ênfase no ensino básico. Este parece ser o caminho mais correto e acertado, como mostram as experiências internacionais. Só que esta não é uma decisão que terá êxito apenas com as definições tomadas pelo governo federal, seja pelo presidente da República ou pelo ministro da Educação. Se não houver a parceria e a responsabilidade da sociedade, dos estados e das prefeituras, o sistema educacional vai continuar sem a qualidade necessária. Retornando ao tema inicial, vou dar um exemplo sobre o uso das tecnologias. No Brasil, entre os 180 milhões de habitantes, uma porcentagem muito reduzida tem acesso ao computador. Porém, ter acesso a muita informação não significa, em uma sociedade com um sistema educacional muito fraco, que se tem acesso ao conhecimento. Nessa pequena porcentagem da população brasileira que tem acesso à internet, há um percentual muito menor de pessoas com capacidade cognitiva para entender essa informação a ponto de assimilá-la e produzir conhecimento. E, se não somos capazes, na América Latina e no Brasil, de aumentar a capacidade cognitiva para aumentar a produção de conhecimento, estamos nos distanciando daqueles que fazem isso muito bem.

Os professores estão preparados para utilizar estas tecnologias como ferramentas pedagógicas?
Não, por várias razões. No Brasil, houve uma decisão política de colocar laboratórios de informática nas escolas. Ocorrem, como conseqüência, três problemas. O primeiro é que não se percebeu algo fundamental: o principal agente educativo é o professor, incluindo os níveis fundamental, médio e superior. Entre os profissionais de educação no Brasil, só 50% têm acesso à informática e à internet. Os outros 50% estão fora. Se você imagina que estamos falando de todos os profissionais de educação, obviamente a porcentagem que tem mais acesso é aquela dos professores de ensino superior. O professor do ensino básico foi excluído. Era preciso definir uma política que permitisse instalar laboratórios e, ao mesmo tempo, promover o acesso aos professores, através de uma venda financiada ou co-financiada pelo Estado ou Prefeitura, para que eles tivessem na sua residência um computador. Isso multiplicaria ainda mais o impacto, por envolver o núcleo familiar. Criaram os laboratórios de informática e colocaram um monitor para tirar dúvidas e orientar os alunos. Dessa maneira, o professor encara esse computador como um profundo competidor e, além disso, rejeita esse instrumento tecnológico por não saber como controlá-lo. Esta vem sendo uma das piores situações na introdução da informática nas escolas de ensino básico - e já é reconhecida como um dos problemas centrais. Alguns estados, por conta disso, desenvolveram políticas para permitir aos professores terem acesso ao computador.

O senhor disse que há três problemas neste aspecto. Quais são os outros dois?
O segundo é que, hoje, um grande número de laboratórios de informática são mantidos fechados pelo diretor da escola, que não deixa os alunos entrarem, com medo de roubos ou quebra de computadores. O terceiro problema é que também há muitos computadores nas escolas brasileiras que não funcionam. Ou seja, o professor não tem computador, nem experiência. Há laboratórios fechados. E alguns laboratórios abertos têm uma grande quantidade de computadores quebrados.

Como é possível mudar a concepção que os professores têm da tecnologia, para que ela seja melhor utilizada?
Existem dois grupos de professores. Um grupo é formado por professores que lecionam há 15 ou 20 anos, que dificilmente incorporam a tecnologia no seu dia-a-dia. Para eles, é preciso mostrar a importância dessas ferramentas. O outro grupo é formado por professores jovens, mas que, lamentavelmente, na maioria dos casos, não aprenderam Informática durante a sua formação. Esta é uma situação grave. Uma grande parcela de professores do ensino básico provém dos setores mais humildes e desfavorecidos da população. Eles estudam em escolas públicas fracas e depois não conseguem ingressar na universidade pública, onde estão, percentualmente, os alunos que provêm das escolas privadas. Quando esse professor entra na faculdade, escolhe faculdades privadas e muitas delas não têm o nível de qualidade necessário para uma formação adequada. Por isso, é preciso exigir que as faculdades de Pedagogia, do setor privado e público, incorporem o ensino de Informática para esses professores. Caso contrário, eles nunca mudarão sua visão sobre a importância de incorporar novas tecnologias no seu trabalho.

Quais ações poderiam ser desenvolvidas entre o Brasil e os países latino-americanos para promover a cultura e o conhecimento no continente?
Muitas ações poderiam ser desenvolvidas. Há muitos países na América Latina com experiências interessantes, bem-sucedidas e inovadoras. Já existem relações bilaterais entre alguns países, que mantêm contatos sistemáticos para compartilhar experiências. O Brasil é um exemplo de estratégias em todos os campos, especialmente devido à fragilidade do seu sistema educacional. Essa troca de experiências poupa tempo e recursos materiais, pois impede que se invente algo que está sendo bem desenvolvido em outro país.

Como o senhor avalia o governo Lula na área social e na educação?
Há um foco, que se acentua nesse segundo mandato do presidente, em uma política social centrada no Bolsa-Família, que é uma derivação do que foi desenvolvido pelos governos anteriores com uma dimensão quantitativa e geográfica maior. Com isso, em alguns estados, foi possível ampliar o sistema educacional. Além disso, o governo criou alguns programas, como o Universidade para Todos (ProUni), para aumentar o número de ingressos nas universidades. Isso é importante. Atualmente, o governo coloca o ensino básico como prioridade, com a seleção dos dois mil municípios com pior IDH para realizar uma política discriminatória positiva. Fazer isso significa incluir em uma sociedade democrática os que estavam historicamente excluídos. Esta é uma política extremamente importante e inteligente. Além disso, o país está avançando, também, em alguns aspectos tecnológicos, como a educação a distância, que é um instrumento muito importante e bem utilizado em países como a Inglaterra, Espanha e Colômbia. Ela não deve ser vista como uma formação universitária de segunda classe - desde que utilizada seriamente.

Em julho, aconteceram os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, evento que reuniu todos os países do continente. Qual a importância de aliar o esporte à educação em países como estes, tão marcados por desigualdades sociais e falta de oportunidades?
É enorme. Alguns países sempre dedicaram grande atenção ao esporte como forma de integração na sociedade e como um complemento ao processo educacional. São países que lideram as competições, como Estados Unidos e Cuba. Os outros países da América Latina, lamentavelmente, não dão ao esporte a importância que ele deveria ter. Porém, aí encontramos o caso brasileiro, que sempre surpreende. Aqui não há um grande desenvolvimento sistemático para favorecer a prática de esportes. Não há a preocupação em criar futuros atletas, que seriam figuras importantes de identificação para crianças e adolescentes. Apesar disso, o Brasil se saiu muito bem no Pan-Americano, seja em esportes em conjunto, como o vôlei, ou individuais, como a natação. A partir disso, é preciso questionar porque há esta contradição. Se temos um recurso humano tão fantástico, por que não investir nele? O retorno é altíssimo.

Tomado do portal da Andifes
http://www.andifes.org.br/news.php

5 de ago. de 2007

laptops em ação!

Oba, oba! Via blog de Renata Cafardo A boa (e a má) educação, finalmente chega uma notícia sobre os famosos laptops de baixo custo do projeto OLPC que não está escrita no tempo verbal futuro ou futuro do pretérito, senão em presente ou pretérito: Os tais latops de U$ 100.

A Renata Cafardo, jornalista do Estadão, descreve o que observou in situ e as opiniões de crianças e familiares.

Imperdível!