16 de jul. de 2024

Fiz um pacto com meus alunos em relação com a IA, mas...

 

Esta semana, na primeira aula do semestre da disciplina de estágio de espanhol, estabeleci um compromisso com meus alunos ao apresentar-lhes a tarefa para a semana seguinte.

Eles devem realizar uma análise pessoal de três das dez competências gerais presentes na BNC-Formação (Brasil, 2019). Expliquei que essas competências espelham aquelas da BNCC (Brasil, 2018), porém adaptadas para professores.

Combinei com eles que nessa tarefa não seria usada a IA para produzir o texto. O valor residiria na riqueza das opiniões pessoais embasadas na leitura atenta das competências selecionadas, pois as análises e comentários seriam únicos, singulares, devido às diferentes experiências de vida e opiniões que eles possuem.

Destaquei que em caso de eu perceber que o texto fosse produzido pela IA resultaria em nota zero para essa tarefa semanal. Simples assim.

Reconheço que enfrentaremos desafios crescentes, especialmente agora, com serviços de IA que buscam "humanizar" textos (ou seja, remover pistas de que foram gerados por IA para evitar detecção de plágio). No entanto, tenho me familiarizado com chatbots e suficientes exemplos de textos gerados por IA que eu e outros professores temos recebido dos alunos, como para poder reconhecer esses padrões. 

Em última análise, meu objetivo com o "pacto" foi incentivar um senso de responsabilidade e tentar mitigar a dependência crescente de alguns alunos em relação à IA. Percebo que alguns são novatos no assunto, enquanto outros já são especialistas no uso da IA.

De qualquer forma, ao longo do semestre, exploraremos várias possibilidades da IA para outras tarefas específicas, que sempre serão baseadas em evidências - incluindo o compartilhamento dos links de conversas geradas com os chatbots. No entanto, neste caso inicial, a tarefa foi uma reflexão pessoal sem o auxílio dessas ferramentas.

Na mesma aula aconteceu um fato meio paradoxal e engraçado. Em uma dinâmica que organizei para classificar características como pertencentes a aulas antigas ou modernas, surgiu o termo "rubricas de avaliação". Ao perceber que não estavam familiarizados com o termo, sugeri que pesquisassem sobre ele para a próxima aula, utilizando Perplexity, um dos chatbots que costumo apresentar e usar com os alunos. 

Devemos pensar que neste segundo caso, também existe uma intencionalidade pedagógica clara por minha parte quando recomendei o uso específico de um recurso. Eu sei o que o Perplexity costuma gerar nessa indagação específica.

Como podem perceber neste breve relato, não estou ignorando a IA, mas sim focando em usos específicos e resultados concretos e compartilháveis que serão discutidos com os alunos. Além disso, reconheço a importância de incorporar diretrizes específicas sobre IA nos contratos didáticos estabelecidos entre professores e alunos.

Esta é uma decisão pessoal, mas sinto falta de poder discutir esses temas complexos com meus colegas. A verdade é que ainda não tivemos oportunidades para isso, o que é lamentável, pois parece que estamos desamparados nessas questões. Além disso, sinto falta de diretrizes claras da universidade sobre o uso de IA na educação universitária. 

Mais tarde, compartilharei como foi essa experiência.

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